UM QUASE NÃO OLHAR!

A vida em suas fases pode ser cruel, o olhar de uma criança e a prova disso, ou mesmo um quase não olhar de uma criança.

Uma coisa que aconteceu comigo hoje, domingo dezesseis de outubro de dois mil e dezesseis, era por volta de umas nove e meia da manha, eu escuto alguém batendo palma chamando “o de casa”, não liguei, pois era a voz de uma criança e como de rotina sabia que era um menino que minha mãe sempre comprava alguma coisa dele, eu não sabia ao certo o que ele vendia porque nunca perguntei minha mãe, só que as palmas e os gritos se estenderam, e eu comecei a ficar irritado com aquilo, mais não levantei da cama continuei ali esperando que o garotinho fosse embora, já que só estavam eu e meu irmão em casa e ele estava dormindo. Os gritos pararam imaginei que o garoto tinha ido embora, mais então escutei ao longe de novo as palmas e o grito “o de casa”, resolvi então levantar, fui ate a porta, quando coloquei a mão na fechadura da porta, mas hesitei e resolvi não abrir, fui então até a janela da frente abrir e lá estava um garotinho franzido, de mais ou menos uns onze anos, moreno de cabelinhos cacheados e olhos claros, de bermuda amarela uma regata vermelha e com uma carriola e com vários saquinhos de tomates, batatas e repolho, abrir a janela e ele não me viu, então fechei sem que ele me visse, mais resolvi abrir de novo e ele se virou olhou rapidamente para mim e perguntou abaixando a cabeça se eu queria comprar tomate, não sei porque mais na hora me deu uma angustia um sentimento de vergonha por ter recusado, e até ter ficado bravo por um garotinho bater palmas na minha casa em um domingo de manha,  simplesmente para tentar vender seus tomates. Quando ele perguntou se eu queria comprar no automático disse que sim, fui no quarto peguei na minha mochila três reais, e quando voltei para a janela ele estava no portão me esperando, cheguei perto dele percebi que ele não olhou direito para mim, o olhar dele se desviava, entreguei o dinheiro e ele perguntou qual dos cinco saquinhos de tomate eu iria querer, escolhi um mais vermelho ele disse obrigado e saiu para tentar vender o resto.

Só que eu tive uma surpresa quando minha mãe chegou, ela me perguntou de onde era aqueles tomates, e eu disse que era de um garotinho que passa vendendo, então ela perguntou “um que passa com a carriola?”, eu respondi que sim, então ela completou, eu sempre compro dele, tadinho ele tem um problema de visão e quase não enxergava, ele vende os tomates para tentar comprar um óculos, quando minha mãe disse isso eu me quebrei ao meio de tanto remorso por não ter atendido ele mais cedo, eu na hora pensei o que ele passa por não conseguir enxergar direito, porque na hora eu me coloquei no lugar dele, eu uso óculos e sei como é quando fico muito tempo sem usar, me dar dor de cabeça e embaça as vistas. Quando parei pra refletir o que tinha me acontecido essa manha só consegui chorar.

Às vezes queremos coisas tão desnecessárias, seja um celular novo ou uma roupa da moda e quando não conseguimos ficamos com aquele sentimento de que as coisas não dão certo, mais quando a vida te coloca em frente a uma situação dessa, em que um garotinho sai empurrando uma carriola debaixo de um sol quente, só para tentar um dia conseguir comprar um óculos, agente vê como a vida e dura com algumas pessoas, mas mesmo assim continuando lutando ainda que demore eles não desistem. A próxima vez que me encontrar com esse garotinho vou conversar com ele, tenho meu primeiro óculos guardado não uso mais, claro o problema dele deve ser mais grave mais não custa tentar de alguma forma ajuda-lo.

Essa historia é real, espero realmete encontrar esse garotinho, e de alguma forma tentar mudar a vida dele.

Autor, Yan E.

UM QUASE NÃO OLHAR!

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